21 de setembro de 2008

Leituras (16)

(...)Quando um doador nos oferece dinheiro para, nas suas palavras, "equilibrar" o nosso orçamento o que quer ele dizer? Equilibrar o orçamento quer mesmo dizer equilibrar o orçamento? Que orçamento? Quando 0 orçamento do Estado moçambicano é, em cerca de dois terços, de origem externa, ou melhor ainda, uma dádiva de caridade, o que se quer dizer quando se fala dele? É mais do que evidente que quando um doador emprega esse termo está, realmente, a desafiar-nos para procurarmos a implicatura.
Não está a falar das receitas que o Estado colhe do suor dos moçambicanos para poder gerir a comunidade que somos. Está a falar, muito provavelmente, de tudo quanto o nosso Estado deve fazer para continuar a agradar os seus samaritanos. Está a falar da agenda política externa que acompanha esses dinheiros para trivializar o nosso processo político. Está a falar da irrelevância das nossas instituições e do poder disciplinar que os doadores exercem sobre elas. Parece duro ter de reconhecer isto, mas é também uma oportunidade. É uma oportunidade que temos de apreciar como as palavras nos fazem e, no processo, vislumbrar espaços de manobra. Sem revolução nem guerrilha.(...)

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