8 de novembro de 2008

Grande Hotel da Beira

O “caso” Grande Hotel é um problema antigo, conhecido na cidade da Beira e reportado várias vezes.(...)
A Associação Muçulmana de Sofala já se solidarizou, construindo algumas casas na zona da Munhava, que albergaram dezenas de famílias.
Sabe-se, no entanto, que o número de famílias a viver no Grande Hotel, tende a crescer. Parte dos beneficiários das casas da Munhava somente recebeu as chaves, mas não vive lá, preferindo arrendá-las para continuar no Grande Hotel. Uma outra parte ocupou as casas naquele bairro, mas mantêm as “flats” do Grande Hotel, arrendando-as a preços que variam de 100 a 250 meticais/mês.
O Grande Hotel tem “capacidade” para 400 famílias, mas residem mais de 800, entre elas estudantes universitários provenientes de outras regiões do País e que não têm parentes naquela urbe, oficiais da PRM, e trabalhadores da Função Pública. Até as suas caves foram ocupadas!
Muitas casas de banho viraram quartos. Pessoas de má fé têm retirado o corrimão para alimentar o negócio de sucata. Sabido que o edifício não possui corrente eléctrica, muita gente já caiu das escadas, principalmente os bêbados. Há o registo de três óbitos no passado mês de Outubro.Às vezes só encontramos logo de manhã uma pessoa morta, sem sabermos o que teria acontecido. Neste mês (Outubro) tivemos dois casos. Algumas desses mortos vinham embriagados, porque não temos corrimão nas escadas pois o ferro foi retirado para a sucata - disse o chefe da Unidade Comunal no Grande Hotel, João Gonçalves.(...)
PARTIR VARANDAS PARA VENDER AS PEDRAS
Os problemas não param por aqui. Algumas paredes de varandas do Grande Hotel já não existem, porque oportunistas destríram-nas retirando pedra para vender a privados que posteriormente usam na construção:
Por vezes nós, moradores, é que somos culpados dos problemas que se vivem aqui. Já imaginou, senhor jornalista, partir a sua própria varanda para levar a pedra e depois ir vender aos montinhos? Fica muito complicado gerir este tipo de caso - disse o Secretário do quarteirão sete, Orlando Joaquim Grande que reconheceu que este facto poderá ter repercussões dramáticas nos próximos tempos.(...)
FECALISMO: UMA “CULTURA”
O fecalismo a céu aberto é um problema já bicudo no Grande Hotel. Já se tornou “cultura”. Tudo porque, em princípio, não existe um sistema de abastecimento de água naquele local, muito menos sanitário. As pessoas fazem as necessidades maiores nos plásticos e à noite lançam pelas janelas. Outros preferem fazê-lo na praia e/ou nas áreas próximas do edifício.
A minha casa era um quarto, sala e casa de banho, mas porque a família é grande preferi destruir a casa de banho onde passei a dormir. Por isso, nas noites defecamos nos plásticos e deitamos pela janela. Isto é assim mesmo meu irmão, não há maneira. A vida está difícil - referiu Orlando Grande.
(...)
Nica disse que tem sido difícil conviver com esta situação. Às vezes estou a atender os meus clientes e de repente alguém lança dejectos e suja o indivíduo. Isto não é nada bom.

Notícias - Suplemento Sofala - 4 Novembro/2008

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